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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Consternação...

CǾnsternaçãǾ


As chamas das pequenas lamparinas de querosene iluminavam parcialmente as calçadas ainda escuras da cidade da capital paulista, o dia nasceria em breve e Allana seguira assustada pelo centro da cidade em direção à estação da Luz, sairia de São Paulo o mais rápido que conseguisse, certamente pela manhã todas as diligências policiais estariam em seu encalço e ela já pretendia estar longe da cidade. Nunca imaginara que pudesse fazer o que acabou fazendo, mas... Não podia mais suportar tudo o que vinha acontecendo...


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“ Em fevereiro do ano de 1903 saíra do sul do país e viera para a capital paulista com seu marido, nunca achara que se casar com dezessete anos seria o ideal para uma menina que não conhecia nada da vida, mas a influência social e as ordens de seu pai não lhe davam muitas alternativas. Nunca fora tratada de maneira gentil ou no mínimo educada, era chamada de “mulher” durante o dia e tratada como mero objeto inanimado durante as noites pelo seu flácido e nojento marido... Mas isso não a incomodava tanto, quanto menos conversasse com seu marido, quanto menos ele a tocasse, melhor seria...
Moravam em uma casa, ou melhor em um pequeno palacete na recém-inaugurada Avenida Paulista, haviam muitos empregados e muita movimentação em casa, mas começaram a ocorrer coisas estranhas ultimamente, seu marido não a usava a algum tempo, desaparecia durante boa parte das noites, algumas vozes inundavam a casa durante a madrugada...
Na noite de ontem acordara com um grito agudo de uma mulher, olhara para o lado e não vira o seu marido... Levantara-se, colocara um hobby de seda e saíra do quarto com um pequeno candelabro nas mãos para iluminar seus passos...
Descera as escadas até o hall principal da casa, não encontrara nenhum dos empregados, não era possível que nenhum deles houvesse escutado os gritos que a acordara.
Continuara seus passos pela casa sem iluminação e aparentemente vazia, encontrara a porta que descia ao porão parcialmente aberta com flashes de iluminação vinham do final da escadaria. Como que por instinto Allana apagara a vela e colocara o candelabro em cima de uma pequena mesa. Pé ante pé começara a descer as escadas, seus olhos passeavam pelo cômodo da casa em que nunca havia entrado, as paredes eram pintadas em um tom vermelho.
Esqueletos de cabeças de animais com chifres ornamentavam as paredes do imenso comodo vermelho, Allana conseguira desviar o olhar em direção ao centro do porão, havia um enorme pentagrama desenhado no chão, com velas iluminando cada uma das cinco pontas, no centro havia uma mulher nua e com o peito aberto pelo que pareciam golpes de machado, seu coração jazia em um pequeno frasco de vidro ainda sujo pelo sangue que banhava quase todo o interior do pentagrama.
Seus olhos alcançaram a parede do fundo e puderam ver o quão doentio era a cena, haviam no mínimo mais uns vinte frascos como aquele, corações, intestinos, sangue e duas cabeças boiavam na solução de formol. Allana sentira seu estômago embrulhando-se e a sua cabeça começara a rodar, escutou pequenos ruídos na parte distal e mais escura do cômodo.
Apanhou uma das velas do pentagrama e levantou até a altura de seus olhos para que pudesse visualizar a origem dos ruídos, pode ver os longos cabelos brancos de seu marido, que permanecia sentado no chão, comendo um pedaço de carne que havia arrancado do corpo da garota que fora assassinada e mutilada.
“Deus do céu, tende piedade...” Murmurou por entre os dentes, seu marido levantou a cabeça e a olhou intensamente, seu sorriso vermelho gelou o sangue de Allana, que jogando a vela no chão tentou sair correndo escada acima... Sentira as mãos de seu marido tentando segurá-la, mas o sangue em suas mãos tornava-a escorregadia, então o mesmo postou-se diante da escada, impedindo-a.
A garota percorrera novamente o cômodo com os olhos e encontrou a pequena machadinha que abrira o tórax da jovem mulher que estava no chão, seu marido já encontrava-se novamente a seu lado com o sangue da garota escorrendo por seus lábios, apanhou a machadinha e em um único golpe desferido fizera o rosto do homem que dividia sua cama abrir-se em dois.
Jogou a arma no chão e subira correndo até seu quarto, trocara sua roupa e calçara os primeiros sapatos que vira, abriu a pequena gaveta e apanhara algumas notas e moedas...


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Entrara na estação assim que os portões se abriram e comprara o bilhete para o primeiro trem que sairia de manhã... Rio de Janeiro... A fumaça da locomotiva podia ser vista no horizonte quando entraram na estação três policiais acompanhados de um homem com o rosto enfaixado e vestindo um longo sobre tudo... 
O trem aproximara-se ainda mais e ela rezava em silêncio para que os policiais não a estivessem procurando. O homem soltou um tipo de ruído e levantou o braço em direção à Allana, os policiais em meio à gritos começaram a correr em sua direção. A garota começara a correr em direção ao trem que já se aproximava...
“Pare, polícia” os gritos tornavam-se mais altos a medida que Allana desacelerava os passos, olhou para ambos os lados e viu-se acuada entre a parede e os policiais, então notara que o homem gravemente ferido e com o rosto enrolado era seu marido, àquela altura o trem já encontrava-se mais perto, sem enxergar outra alternativa respirou fundo, abriu os braços e saltou de encontro aos trilhos do trem...



AllisonRdS