Anunciação
As
nuvens encobriam a lua crescente de um céu sem estrelas, as velas
eram a única iluminação perceptível aos olhos de todos. O circulo
estava reunido mais uma vez e a oferta à grande deusa já estava
pronta para o sacrifício. O homem fora banhado em água corrente de
um córrego próximo, o haviam colocado sentado no interior do
pentagrama incrustado na grama, estava vestindo sua túnica branca e
com os olhos fechados meditava profundamente em posição de lótus.
A
jovem bruxa permanecia em volta ao simbolo sagrado, sob as sombras
das árvores aguardava os futuros passos do ritual. As outras bruxas
começaram entoar um de seus cânticos sagrados, pedindo a proteção
dos deuses e da natureza, a garota segui-as em sua melodia, era o seu
primeiro Esbath, seguia os passos das outras mulheres, mas ainda
precisava decorar todos os pequenos detalhes do ritual. Deram as mãos
e a sacerdotisa tomou a palavra... “Grande deusa, aceite a oferta
que suas humildes filhas lhe trazem, que toda a energia liberada
agrade sua aura e que o cheiro agrade seu olfato”...
As
cinco mulheres abriram suas túnicas negras e levantaram os capuzes
que ainda cobriam seus cabelos, deixando com que o tecido deslizasse
por seus braços e encontrasse a grama em que pisavam... Os corpos
nus foram revelados ao mesmo tempo em que as nuvens abriram-se e a
mata iluminara-se novamente.
O
único homem que compunha o ritual levantara-se no interior do
pentagrama, dirigiu-se até a ponta norte que representava o espirito
e que continha além da vela um diminuto altar com os símbolos
wiccanos, com a mão esquerda empunhou a adaga de cabo negro, fez um
pequeno corte do dedo indicador da mão oposta e deixou com que duas
gotas do seu sangue caíssem no cálice de prata. Levou o cálice aos
lábios e bebeu um pouco do vinho misturado a seu sangue, pronunciou
algumas palavras em uma língua ainda incompreensível à jovem
garota...
Após
pousar o cálice no pequeno altar, o homem dirigiu-se a cada uma das
mulheres e deixou com que uma gota de seu sangue escorresse por entre
seus seios, retirou a sua túnica branca e jogou-a para fora do
pentagrama, deitou-se no centro do circulo com os olhos fechados e
assim permanecera...
Uma
a uma as mulheres entraram no símbolo e deitavam-se por sobre o
homem até que seus sexos se encaixassem, seguindo em uma cópula
intensa e barulhenta, mas não atingiam o clímax em momento algum...
No momento precedente ao orgasmo levantavam-se e trocavam de garota,
o bruxo permanecia rijo, agora com o olhar fixo na lua que reinava
solitária no céu, após as quatro mulheres revezarem-se por algumas
vezes, a mais velha delas levantou-se e pegou a iniciante pelas mãos.
A jovem wiccana havia notado que o homem nitidamente em transe
levantava a mão esquerda e com sua palma tocava as mulheres por
entre os seios, aumentando a marca da pequena gora que havia deixado
pingar em cada uma delas.
Julia
olhara no próprio tórax e vira que a gota que houvera sido
depositada há pouco minutos não deixara nenhuma marca. Foi
posicionada por sobre o homem pelas outras mulheres e fora agachando
lentamente, sentindo-se preenchida e sob o calor dos primitivos
deuses da luxúria, o homem repetira com ela o gesto feito com todas
e tocou-lhe por entre os seios, não sentindo a marca do próprio
sangue, abaixou a mão e segurou-a pelo quadril... Julia sentira o
sangue de sua virgindade sendo entregue como oferta aos deuses, a
excitação que sentira aumentara de maneira inversamente
proporcional à dor que diminuíra a cada movimento de seu quadril.
Sentindo
que não conseguiria mais prorrogar o kundalini, teve a certeza de
que seu papel na seita seria maior que um dia pudera imaginar,
pousou as mãos sobre o tórax do homem que apertava cada vez mais o
seu quadril e fechou os olhos, sentira um prazer tão intenso que
seus sentidos foram apagando-se progressivamente...
╪
Ao
abrir os olhos novamente, Julia retornara à realidade, lembrou-se
novamente de seu ritual de iniciação, suas pernas tremiam novamente
como no dia em que participara daquele Esbath...
Levantou-se
e olhou pela janela do apartamento, quase trinta anos se passaram,
fora a única sobrevivente do coven... Bruxa, sacerdotisa... Se
permanecesse entre os wiccanos talvez fosse Elder, mas acontecera
tanta coisa... Uma trajetória que temia estar chegando ao fim...
Vira o céu avermelhando-se, as lágrimas começaram a escorrer por
seus olhos, fechou-os e pedira perdão mais uma vez aos deuses...
Porque havia feito tudo o que fez? Não sabia explicar, sabia apenas
que o tempo acabara...
AllisonRdS