Translate

quinta-feira, 31 de julho de 2014

  Com um pouco mais de sessenta dias publicado o Haegessa: Entre a lua e as sombras tem me levado a resultados interessantes: muitos elogios, algumas críticas, vendas não muito boas, rsrsrs... Mas uma experiência incrível em ter escrito um livro considerado por todos que o leram como "muito bom", "surpreendente", "intenso"...
  Com um novo livro em produção e estudando cada vez mais sobre o mágico mundo da literatura, foi publicado apenas como livro digital... O ebook é uma opção extremamente interessante, primeiramente pelo conceito de tirar o foco de "objeto" e passar o foco para o "conteúdo" do livro, acho que é uma alternativa que ainda limita um pouco o acesso, afinal quem não gosta do cheiro de um livro novo? Ou de passear entre as prateleiras de uma livraria?
  Mas novos tempos estão chegando e quem sabe novos conceitos serão trazidos com eles, não é?    
  O Haegessa continua na Saraiva entre os livros de literatura nacional, algumas vezes entre os trinta mais populares, outras vezes entre os cinquenta e  outras entre os duzentos... rsrsrs... O link segue abaixo, se puderem curti-lo no link abaixo, agradeço bastante...
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/7552733. 
Um grande abraço a todos. 
AllisonRdS...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Volvere...

Volvere



- Heitor... Heitor...
Ø


A cela ainda estava escura e gelada, as grades no turbilhão inconstante da agitação de seus pensamentos transformavam-se em desenhos abstratos, seus olhos já o enganavam, ludibriavam os traços da realidade... Não havia conseguido dormir esta noite, sua última noite...
Tivera bastante tempo para pensar em tudo o que havia feito às pessoas... Ossos do ofício? Talvez... Não se arrependia de nada! A sua arte/oficio o levara a lugares diferentes, exóticos, inimagináveis... Atravessara oceanos, montanhas e floretas, cavalgara os melhores cavalos, bebera os melhores vinhos, conhecera príncipes, condessas, bispos, bruxos... Tivera uma grande vida! Maior do que a grande maioria das vidas que conhecera... E também das que ajudara a antecipar o final...
Seis horas da manhã... Podia ouvir o badalar do sino o avisando que a hora estava chegando, seus olhos estavam úmidos, mas não sentia-se no direito de derramar suas lágrimas, imaginou quantas já fez as pessoas derramarem... Quanta dor havia causado?
Estava no direito de sentir a sua dor? Quem lhe deu este direito? Achava que ninguém... Procurava a resposta...
As horas haviam passado depressa, em pouco tempo o guarda trouxera-lhe a famosa última refeição, a escolhera na noite anterior... O arroz, as batatas e o filé de peixe ensopado lhe pareceram uma boa opção... Mas agora, o cheiro da comida embrulhava-lhe o estômago...
Flashes passavam sob seus olhos o tempo inteiro... Ainda podera ouvir os gritos horrorizados que causava em suas vitimas e sentira novamente o prazer habitual em ouvi-los... Mesmo que fossem só em seus pensamentos...
E assim permaneceu por quase todo o dia, sentado no chão e com os olhos fechados, até um padre aproximara-se de sua cela, as grades foram abertas e o sacerdote entrara com um Bíblia em mãos...
“Filho... ajoelhe-se e peça perdão por seus pecados, redima-se perante Deus”... “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”
Assim sincronicamente repetira as palavras do padre e aguardara o momento derradeiro... Uma, duas, três... O sino anunciava a hora a que tanto aguardara e que tanto temia. Levantou-se, as grades foram abertas novamente, saiu até o corredor principal acompanhado do padre, os braços para trás foram algemados...
“Força” “Vá com Deus” Ouviu alguns dos outros presos enquanto caminhavam até o pátio... As portas se abriram.
O pátio vazio, molhado pela chuva que havia encharcado a todos os presentes... Três guardas, o padre e um carrasco... Sentiu uma certa decepção... Achara que sua fama atrairia algumas pessoas, atravessou o pátio, estava com medo e já não controlava mais as lágrimas que insistiam em soltar-se dos olhos e lançarem-se ao chão... Não se importava mais...
Subiu os degraus cuidadosamente, seria a última escada que subiria e gostaria de poder aproveitar um pouco mais a sensação que as gotas da chuva lhe causavam...
Foi posicionado sobre a pequena escotilha comandada pela alavanca que ficava à esquerda, a corda foi passada por seu pescoço e o nó foi ajustado pelo homem vestido com a capa negra... Um dos oficiais do exército imperial se aproximou, visivelmente incomodado pela chuva e pelo dever que o tirara do conforto...
“ …O senhor é acusado de vários homicídios, ocultação de cadáveres, motim contra o império, pirataria e bruxaria... Algo a dizer em sua defesa?”
Sob a negativa do acusado, o oficial fez um pequeno gesto e a alavanca fora puxada...
O destino estava de mau humor aquela tarde, pois suas vertebras não quebraram com o impacto... A corda apertando-lhe o pescoço, empurrava sua língua para cima e para fora, os pulmões gritavam por mais um pouco de ar e seu corpo com as mãos algemadas para trás debatia-se descontroladamente...
O que deveriam ser poucos segundos transformavam-se em momentos intermináveis de angústia e dor, seus gritos presos não conseguiram ser emitidos... Mantinha os olhos abertos enquanto tentava inutilmente controlar a dor lacerante que queimava-lhe o peito e a garganta como fogo... Após sentir suas pálpebras fechando ainda conseguiu ouvir o distante badalar do sino... E a escuridão o tomou por completo...

Ø

- Heitor, tudo bem? Consegue entender o que eu digo? Pisque os olhos ou aperte a minha mão se conseguir... - O homem com a roupa verde e máscara cirúrgica batia em seu ombro e o olhava enquanto falava... - Você está bem agora, quase morreu... Mas agora você está bem...
- Enfermeira vou diminuir os parâmetros do ventilador, o glasgow do paciente está em 11T e vamos extubá-lo daqui a pouco...
Heitor não fazia ideia do que ocorrera com ele, ouvia o som dos monitores e sentia o manguito aferindo sua pressão... Procurava uma resposta... Mais uma vez o estranho sonho se repetira... E maldita dor no pescoço ainda continuava...


AllisonRdS

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O sétimo coven.

O sétimo coven

A chuva caia torrencial, os olhos de Helena não conseguiam enxergar muito além do círculo... As outras quatro permaneciam em suas posições mantendo elevado o nível de energia do coven... Logo começaria a batalha e toda a força do grupo seria colocada a prova...
Podiam ouvir as tropas se aproximando, Helena olhara a jovem Lourdes na outra extremidade do circulo, estava chorando, mas mantendo-se firme apesar do frio e do medo... Joana estava com os olhos fechados, concentrando suas forças em seu chacra coronal... As outras duas garotas mais experientes trabalhavam juntas, Helena via suas auras azuis tornando-se apenas uma por alguns instantes, a sacerdotisa levantou os braços clamando à grande deusa força para conseguir salvar a cidade...
Os barulho dos cascos dos cavalos aumentavam e o som das armaduras também tornara-se mais intenso, Helena suava frio e sentira o calor inconfundível apesar do vento gelado que viera acompanhando a chuva...
Estava com medo, com muito medo... Se fossem pegas certamente seriam presas, torturadas e queimadas, malditos cruzados e a sua percepção equivocada sobre religiosidade... Um porta bandeira pode ser avistado por Helena, o cavaleiro estava encharcado, o estandarte pingava a água da chuva e o uniforme estava sujo com sangue...
Ao ver o circulo sagrado o homem parou seu cavalo que quase o derrubou quando ergueu-se sobre as pernas traseiras... Com seus grande olhos azuis encarava as cinco mulheres enquanto balançava a bandeira... Os homens chegaram e os arqueiros com o uniforme branco ostentando uma grande cruz vermelha já colocaram as flechas em seus arcos e aguardavam a ordem de seu comandante... Será que ainda não haviam percebido que seria ineficaz? Não haviam notado que as mulheres estavam secas no interior do circulo?
Uma nuvem de flechas tombara na invisível proteção que guardava o coven de Helena, as bruxas voltaram-se de frente uma para as outras e deram as mãos... Sob uma ordem incompreensivel aos ouvidos de Helena a cavalaria templária avançou com toda a força...
Lanças de batalha apontadas para as mulheres protegidas pelo circulo mágico, que já apresentava-se como uma cúpula aos olhos dos homens, mas será que manteriam-se intactas sob o aço cristão? O cavaleiro da ponta passou direto pela cúpula, seguido pelos outros homens, a infantaria templária também passara, entraram na cidade... Vazia, gelada e abandonada, seguiram em formação até o interior da cidade...
Tudo estava queimado, corpos estendidos pelas ruas e sangue escorrendo pelas ruas... No centro da pequena cidade de pedra havia uma grande cruz de madeira, invertida em meio a sete cabeças recém cortadas ainda usando seus crucifixos de prata...
As tropas ocuparam a cidade inteira, talvez ficassem por alguns dias, devem ter tido uma alucinação coletiva...


As mulheres abriram os olhos, permaneciam entre o grande circulo de pedras... Intactas...
Fizeram sua viagem com sucesso, Lourdes permanecera em silêncio durante todo o caminho de volta, era apenas uma garota e esta fora a primeira viagem ao mundo etéreo que fizera em seu novo coven, descera do carro e entrara em casa, sua mãe ainda estava no sofá, provavelmente esperando-a até que pegou no sono...
Lourdes entrou em seu quarto e tirou as roupas, deitou-se e fechou os olhos, ainda conseguia ver os olhos do homem que carregava a bandeira...


AllisonRdS

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Aquárius...

AQUARIUS...



As bolhas subiam na água já verde, pelo visto todos os peixes haviam morrido há algum tempo, fungos estavam comendo seus pequenos cadáveres, dava pra ver as marcas de longe e o cheiro de peixe morto empestiava o ambiente... Descendo um pouco mais a lâmpada de luz negra, pequenas gotículas de sangue puderam ser identificadas, estavam nas duas pilastras que sustentavam o aquário, atrás delas estava uma pequena bolsinha... Abrira-a... Uma adaga, duas velas negras e algumas pedras de cristal com runas encrustadas... Será que a motivação do crime fora para algum tipo de ritual?
Era estranho pensar nisso agora, com o caso praticamente encerrado... Rituais de sacrificio em um apartamento daquele padrão... Naquele lugar? Era algo no mínimo incomum... Sacrificios normalmente acontecem em lugares considerados sagrados, mas sacrificar pessoas? Alguém pode ter esquecido a bolsa aqui, a escondido depois? Talvez fosse do professor, mas ninguém da policia a vira antes? Como?
O piso de madeira estava todo marcado, o rastro de sangue produzido ao arrastar o corpo até a banheira da suíte fora lavado, mas a luz negra revelara tudo... As lâmpadas do luxuoso banheiro foram apagadas e a lanterna especial revelara toda a carnificina que estes azulejos assistiram há alguns dias...
As peças do quebra cabeças se encaixavam perfeitamente... O acusado trouxera a vítima ao apartamento, a executara na sala e arrastara o corpo para o banheiro, esquartejara a garota com as lâminas de bisturí roubadas do laboratório da universidade, colocara os pequenos pedaços cirurgicamente removidos em sacos de lixo e então acomodara-os em três grandes malas de couro...
Descera pelo elevador principal, colocara as malas na Freemont, dirigira até a mata de Santa Tereza, esvaziara as malas, colocara-as novamente na Freemont e fora para a universidade, trabalhara durante todo o dia e voltara ao apartamento, limpou tudo e continuara a vida como se nada tivesse acontecido...
Mais um crime incomum nas grande cidades brasileiras, quantos casos vamos nos jornais das 21h toda semana? Mas... Haviam duas diferenças para os demais... Esta era a quinta garota de programa assassinada pelo professor... E ele havia enlouquecido e se enforcado no CDP de Ribeirão Preto, três dias depois de sua prisão preventiva ser cumprida...
Vicente voltara até a sala de jantar, guardara a lanterna, o gravador e o caderno de anotações na mochila, colocou a pequena bolsa em uma sacola plástica e a lacrara, escreveu EVIDÊNCIA no plástico, colocou na mochila, apanhou a máquina fotográfica e voltou à sala de estar, precisava tirar as fotos, anexar ao arquivo, fazer o relatório da perícia e pronto. Estaria encerrado... O problema passaria a ser do novo investigador...
O cheiro de peixe morto o estava incomodando muito, mas, o que é isso?...
Agora as luzes do aquário estavam acessas, a água verde e cheia de lodo iluminada revelara algo... Chegando mais perto pode ver que entre as pedras verdes e brancas um pentagrama de pedras azuis dava um tom macabro ao aquário, as luzes que há pouco estavam apagadas, agora destacavam o simbolo, sentira os pelos de seus braços eriçando-se... Virou-se imediatamente... Estava sozinho no apartamento, é claro que estava... Depois de quinze anos na polícia, e por tudo o que passara: trocara tiros com bandidos, fora baleado algumas vezes e ameaçado milhares de vezes, ficar com medo em um apartamente vazio? Claro que não...
Fotografou o aquário, as pilastras, o piso, o banheiro... Apertou a tela touch screen e começara a olhar as fotos... Algo o chamara a atenção em uma das fotografias... Um vulto próximo à janela da sala, bem atrás dele... Virou-se de costas imediatamente, nada... Olhara fixamente o espelho e aguardara alguns segundos... Estava com medo... Sentira sua frequência cardíaca aumentada... Não acreditava em assombrações...
Levantara a câmera... Apertara o botão duas vezes... Abaixou a cabeça novamente e olhara as fotos que acabara de tirar... A parede de azulejos, ele, o flash... Um homem com uma capa negra a seu lado direito... Desligou a câmera já com as mãos trêmulas e suadas... Voltou atá a sala de estar e sua mochila agora estava no chão, no meio da sala, de frente para o aquário... Olhou em volta, caminhou até a mochila já fazendo mentalmente uma oração, pedindo proteção... Abaixou-se e segurou a alça da mochila... Levantou a cabeça devagar e olhara o aquário fétido e esverdeado... O vulto aparecera no reflexo do vidro já levantando uma adaga...
… Vicente pode sentir sua camisa pegajosa com o sangue que agora escorria por seu dorso e pingava no chão, perdera o ponto de equilibrio e desabara em direção ao piso de madeira... Não havia mais forças para se levantar... Pegara sua arma no coldre... Mas atiraria em quem? O ar faltava e a pequena quantidade que conseguia respirar queimava-lhe o peito, então deitou no chão, estava longe da mochila e mesmo que conseguisse alcançar o celular... Sentiu então uma mão segurar o seu tornozelo e levantar a sua perna... O ar faltava... Começou a ser arrastado em direção ao banheiro, deixou sua cabeça tombar levemente para trás... Abriu os aolho que já insistiam em permanecer fechados... As bolhas do aquário... Bolhas... Bolhas...

AllisonRdS