AQUARIUS...
As
bolhas subiam na água já verde, pelo visto todos os peixes haviam
morrido há algum tempo, fungos estavam comendo seus pequenos
cadáveres, dava pra ver as marcas de longe e o cheiro de peixe morto
empestiava o ambiente... Descendo um pouco mais a lâmpada de luz
negra, pequenas gotículas de sangue puderam ser identificadas,
estavam nas duas pilastras que sustentavam o aquário, atrás delas
estava uma pequena bolsinha... Abrira-a... Uma adaga, duas velas
negras e algumas pedras de cristal com runas encrustadas... Será que
a motivação do crime fora para algum tipo de ritual?
Era
estranho pensar nisso agora, com o caso praticamente encerrado...
Rituais de sacrificio em um apartamento daquele padrão... Naquele
lugar? Era algo no mínimo incomum... Sacrificios normalmente
acontecem em lugares considerados sagrados, mas sacrificar pessoas?
Alguém pode ter esquecido a bolsa aqui, a escondido depois? Talvez
fosse do professor, mas ninguém da policia a vira antes? Como?
O
piso de madeira estava todo marcado, o rastro de sangue produzido ao
arrastar o corpo até a banheira da suíte fora lavado, mas a luz
negra revelara tudo... As lâmpadas do luxuoso banheiro foram
apagadas e a lanterna especial revelara toda a carnificina que estes
azulejos assistiram há alguns dias...
As
peças do quebra cabeças se encaixavam perfeitamente... O acusado
trouxera a vítima ao apartamento, a executara na sala e arrastara o
corpo para o banheiro, esquartejara a garota com as lâminas de
bisturí roubadas do laboratório da universidade, colocara os
pequenos pedaços cirurgicamente removidos em sacos de lixo e então
acomodara-os em três grandes malas de couro...
Descera
pelo elevador principal, colocara as malas na Freemont, dirigira até
a mata de Santa Tereza, esvaziara as malas, colocara-as novamente na
Freemont e fora para a universidade, trabalhara durante todo o dia e
voltara ao apartamento, limpou tudo e continuara a vida como se nada
tivesse acontecido...
Mais
um crime incomum nas grande cidades brasileiras, quantos casos vamos
nos jornais das 21h toda semana? Mas... Haviam duas diferenças para
os demais... Esta era a quinta garota de programa assassinada pelo
professor... E ele havia enlouquecido e se enforcado no CDP de
Ribeirão Preto, três dias depois de sua prisão preventiva ser
cumprida...
Vicente
voltara até a sala de jantar, guardara a lanterna, o gravador e o
caderno de anotações na mochila, colocou a pequena bolsa em uma
sacola plástica e a lacrara, escreveu EVIDÊNCIA
no plástico, colocou na mochila, apanhou a máquina fotográfica e
voltou à sala de estar, precisava tirar as fotos, anexar ao arquivo,
fazer o relatório da perícia e pronto. Estaria encerrado... O
problema passaria a ser do novo investigador...
O
cheiro de peixe morto o estava incomodando muito, mas, o que é
isso?...
Agora
as luzes do aquário estavam acessas, a água verde e cheia de lodo
iluminada revelara algo... Chegando mais perto pode ver que entre as
pedras verdes e brancas um pentagrama de pedras azuis dava um tom
macabro ao aquário, as luzes que há pouco estavam apagadas, agora
destacavam o simbolo, sentira os pelos de seus braços eriçando-se...
Virou-se imediatamente... Estava sozinho no apartamento, é claro que
estava... Depois de quinze anos na polícia, e por tudo o que
passara: trocara tiros com bandidos, fora baleado algumas vezes e
ameaçado milhares de vezes, ficar com medo em um apartamente vazio?
Claro que não...
Fotografou
o aquário, as pilastras, o piso, o banheiro... Apertou a tela touch
screen e começara a olhar as fotos... Algo o chamara a atenção em
uma das fotografias... Um vulto próximo à janela da sala, bem atrás
dele... Virou-se de costas imediatamente, nada... Olhara fixamente o
espelho e aguardara alguns segundos... Estava com medo... Sentira sua
frequência cardíaca aumentada... Não acreditava em assombrações...
Levantara
a câmera... Apertara o botão duas vezes... Abaixou a cabeça
novamente e olhara as fotos que acabara de tirar... A parede de
azulejos, ele, o flash... Um homem com uma capa negra a seu lado
direito... Desligou a câmera já com as mãos trêmulas e suadas...
Voltou atá a sala de estar e sua mochila agora estava no chão, no
meio da sala, de frente para o aquário... Olhou em volta, caminhou
até a mochila já fazendo mentalmente uma oração, pedindo
proteção... Abaixou-se e segurou a alça da mochila... Levantou a
cabeça devagar e olhara o aquário fétido e esverdeado... O vulto
aparecera no reflexo do vidro já levantando uma adaga...
…
Vicente pode sentir sua camisa pegajosa com o sangue que agora
escorria por seu dorso e pingava no chão, perdera o ponto de
equilibrio e desabara em direção ao piso de madeira... Não havia
mais forças para se levantar... Pegara sua arma no coldre... Mas
atiraria em quem? O ar faltava e a pequena quantidade que conseguia
respirar queimava-lhe o peito, então deitou no chão, estava longe
da mochila e mesmo que conseguisse alcançar o celular... Sentiu
então uma mão segurar o seu tornozelo e levantar a sua perna... O
ar faltava... Começou a ser arrastado em direção ao banheiro,
deixou sua cabeça tombar levemente para trás... Abriu os aolho que
já insistiam em permanecer fechados... As bolhas do aquário...
Bolhas... Bolhas...
AllisonRdS
Nenhum comentário:
Postar um comentário