Translate

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Aquárius...

AQUARIUS...



As bolhas subiam na água já verde, pelo visto todos os peixes haviam morrido há algum tempo, fungos estavam comendo seus pequenos cadáveres, dava pra ver as marcas de longe e o cheiro de peixe morto empestiava o ambiente... Descendo um pouco mais a lâmpada de luz negra, pequenas gotículas de sangue puderam ser identificadas, estavam nas duas pilastras que sustentavam o aquário, atrás delas estava uma pequena bolsinha... Abrira-a... Uma adaga, duas velas negras e algumas pedras de cristal com runas encrustadas... Será que a motivação do crime fora para algum tipo de ritual?
Era estranho pensar nisso agora, com o caso praticamente encerrado... Rituais de sacrificio em um apartamento daquele padrão... Naquele lugar? Era algo no mínimo incomum... Sacrificios normalmente acontecem em lugares considerados sagrados, mas sacrificar pessoas? Alguém pode ter esquecido a bolsa aqui, a escondido depois? Talvez fosse do professor, mas ninguém da policia a vira antes? Como?
O piso de madeira estava todo marcado, o rastro de sangue produzido ao arrastar o corpo até a banheira da suíte fora lavado, mas a luz negra revelara tudo... As lâmpadas do luxuoso banheiro foram apagadas e a lanterna especial revelara toda a carnificina que estes azulejos assistiram há alguns dias...
As peças do quebra cabeças se encaixavam perfeitamente... O acusado trouxera a vítima ao apartamento, a executara na sala e arrastara o corpo para o banheiro, esquartejara a garota com as lâminas de bisturí roubadas do laboratório da universidade, colocara os pequenos pedaços cirurgicamente removidos em sacos de lixo e então acomodara-os em três grandes malas de couro...
Descera pelo elevador principal, colocara as malas na Freemont, dirigira até a mata de Santa Tereza, esvaziara as malas, colocara-as novamente na Freemont e fora para a universidade, trabalhara durante todo o dia e voltara ao apartamento, limpou tudo e continuara a vida como se nada tivesse acontecido...
Mais um crime incomum nas grande cidades brasileiras, quantos casos vamos nos jornais das 21h toda semana? Mas... Haviam duas diferenças para os demais... Esta era a quinta garota de programa assassinada pelo professor... E ele havia enlouquecido e se enforcado no CDP de Ribeirão Preto, três dias depois de sua prisão preventiva ser cumprida...
Vicente voltara até a sala de jantar, guardara a lanterna, o gravador e o caderno de anotações na mochila, colocou a pequena bolsa em uma sacola plástica e a lacrara, escreveu EVIDÊNCIA no plástico, colocou na mochila, apanhou a máquina fotográfica e voltou à sala de estar, precisava tirar as fotos, anexar ao arquivo, fazer o relatório da perícia e pronto. Estaria encerrado... O problema passaria a ser do novo investigador...
O cheiro de peixe morto o estava incomodando muito, mas, o que é isso?...
Agora as luzes do aquário estavam acessas, a água verde e cheia de lodo iluminada revelara algo... Chegando mais perto pode ver que entre as pedras verdes e brancas um pentagrama de pedras azuis dava um tom macabro ao aquário, as luzes que há pouco estavam apagadas, agora destacavam o simbolo, sentira os pelos de seus braços eriçando-se... Virou-se imediatamente... Estava sozinho no apartamento, é claro que estava... Depois de quinze anos na polícia, e por tudo o que passara: trocara tiros com bandidos, fora baleado algumas vezes e ameaçado milhares de vezes, ficar com medo em um apartamente vazio? Claro que não...
Fotografou o aquário, as pilastras, o piso, o banheiro... Apertou a tela touch screen e começara a olhar as fotos... Algo o chamara a atenção em uma das fotografias... Um vulto próximo à janela da sala, bem atrás dele... Virou-se de costas imediatamente, nada... Olhara fixamente o espelho e aguardara alguns segundos... Estava com medo... Sentira sua frequência cardíaca aumentada... Não acreditava em assombrações...
Levantara a câmera... Apertara o botão duas vezes... Abaixou a cabeça novamente e olhara as fotos que acabara de tirar... A parede de azulejos, ele, o flash... Um homem com uma capa negra a seu lado direito... Desligou a câmera já com as mãos trêmulas e suadas... Voltou atá a sala de estar e sua mochila agora estava no chão, no meio da sala, de frente para o aquário... Olhou em volta, caminhou até a mochila já fazendo mentalmente uma oração, pedindo proteção... Abaixou-se e segurou a alça da mochila... Levantou a cabeça devagar e olhara o aquário fétido e esverdeado... O vulto aparecera no reflexo do vidro já levantando uma adaga...
… Vicente pode sentir sua camisa pegajosa com o sangue que agora escorria por seu dorso e pingava no chão, perdera o ponto de equilibrio e desabara em direção ao piso de madeira... Não havia mais forças para se levantar... Pegara sua arma no coldre... Mas atiraria em quem? O ar faltava e a pequena quantidade que conseguia respirar queimava-lhe o peito, então deitou no chão, estava longe da mochila e mesmo que conseguisse alcançar o celular... Sentiu então uma mão segurar o seu tornozelo e levantar a sua perna... O ar faltava... Começou a ser arrastado em direção ao banheiro, deixou sua cabeça tombar levemente para trás... Abriu os aolho que já insistiam em permanecer fechados... As bolhas do aquário... Bolhas... Bolhas...

AllisonRdS

Nenhum comentário:

Postar um comentário