Translate

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Evigilantes...

Evigilantes


Corria... O mais rápido que conseguia, algumas gotas de suor escorriam por sua testa e queimava-lhe os olhos que já estavam um pouco cansados pela luz do entardecer... Estava cansado... Muito cansado.
Não sabia ao certo a quanto tempo estava correndo, nem ao menos se lembrava o motivo pelo que corria tanto. Parecia-lhe que as árvores repetiam-se conforme o tempo passava e uma fina chuva começara a molhar seus pés que escorregavam nas poças de lama. Seu peito doía muito, ininterruptamente parecia que estava apertado... O sentimento de urgência que lhe atormentara de tempos em tempos chegara novamente, sempre era acompanhado de uma descarga de energia que acelerava tanto seus batimentos cardíacos, que ele chegava a escutar o fluxo das veias de sua cabeça...
Virou sua cabeça a procura de algum ponto de referência, algo que lhe norteasse e que provavelmente seria seu destino, nada... Continuou correndo enquanto as sombras da noite invadiram o denso bosque, ele não avistara nenhum animal, nenhum som além de seus passos esmagando as folhas... Avistara algo incomum, parecia-lhe um ponto de luz há alguns metros a frente, parara por alguns instantes para recuperar-se e conseguir respirar por mais alguns segundos...
Chegara mais próximo ao que era o ponto de luz em meio as árvores, um círculo de velas acesas iluminava a noite escura, pedras brancas estava cravadas no chão e em cinco pontos diferentes velas estavam acesas... Escutara um pequeno barulho e olhara para os lados, uma coruja de penas castanhas e face branca o observava com seus olhos prateados... Novamente a dor em seu peito se intensificara e a descarga que energia que sentia antes estava mais tênue agora, sentou-se em uma das pedras e colocara as mãos sobre o peito dolorido, sua respiração estava voltando ao normal, olhara novamente... Era estranho, as gotas da chuva não apagavam as chamas das velas... A dor se intensificara e o ar começara a faltar novamente, escutara uma voz feminina chamando seu nome... Olhara para todos os lados e tentara responder, mas não conseguia, sua voz não saíra em nenhuma das tentativas, a luz do círculo começara a ficar mais forte progressivamente e rapidamente, sua dor aumentara, então deitou-se no chão e fechou seus olhos...
ψ

- Voltou, voltou... - A equipe da sala de trauma já estava exausta, as doses de adrenalina seguidas pelos choques do desfibrilador conseguiram estimular o coração do paciente a funcionar novamente, os médicos residentes estavam exaustos em revezar as massagens cardíacas por quase trinta minutos...
- Enfermeira, coloca 250 de Dopamina na bomba a 20 ml/hora, por favor... - Ricardo sentara-se para examinar o prontuário do doente que fora atropelado na noite anterior, o trauma torácico havia sido grave com algumas fraturas de arcos costais e contusão pulmonar acompanhada por um hemotórax já drenado antes da parada... Escutara os alarmes do monitor quando a enfermeira dera um grito...
O paciente que acabara de sair de uma parada cardiorrespiratória estava sentado na cama, com os olhos abertos e olhando para o médico fixamente...

AllisonRdS

sábado, 22 de novembro de 2014


Ando meio ausente do blog, peço desculpas, muitas coisas acontecendo em minha vida pessoal, muito trabalho no hospital e muito mais trabalho com detalhes do meu casamento (está marcado pra pouco mais de trinta dias)... Não parei de escrever, tenho muitos contos prontos e mais dois livros em andamento, acho que em breve terei novidades pra contar, rsrs... 
O Haegessa continua na Amazon, foi pirateado por muitos sites e encontra-se para download gratuito em muitos lugares na web... Só fico chateado por perder o controle de quantas pessoas tiveram acesso ao livro, a intenção é que leiam... Mas, nem é tão caro assim... rsrsrs... Tenho alguns projetos novos que incluem fantasia e bruxaria, obviamente... Oficialmente o meu primeiro livro encontra-se pela bagatela de R$ 7,26, está no link: http://www.amazon.com.br/gp/product/B00O3SOLUK/ref=s9_simh_gw_p351_d10_i1pf_rd_m=A1ZZFT5FULY4LN&pf_rd_s=center2&pf_rd_r=1JWCA4QGSSZC4MFQ2F43&pf_rd_t=101&pf_rd_p=1565853762&pf_rd_i=5461252011
Abraços... 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

29/10 Dia nacional do livro...

Magia...

A literatura é talvez a arte mais íntima e mais intensa que o homem possui. A arte da escrita... O jogo de palavras das poesias, a continuidade das crônicas, o tiro rápido dos contos, a maneira como visualizamos os cenários, os cavaleiros, as princesas, os anjos e os demônios descritos...
Comemoremos o dia do livro, instrumento usado pelos homens para transmitir conhecimento, alegria, suspiros, lágrimas... Quem ganha somos nós.

AllisonRdS.

sábado, 25 de outubro de 2014

A primeira relíquia? 9º conto...

A primeira relíquia?

A última missa do dia fora encerrada a poucos minutos, assim que o sol se pôs, os fiéis haviam sido dispensados da forma usual “Vão em paz e que Deus os proteja” o padre Felipe aguardava ansiosamente a chegada do monsenhor londrino, os homens da ordem dos templários que haviam chegado à capital inglesa trouxeram em sua bagagem um item inusitado que a cúria inglesa não queria abrigar em seu país...
“A catedral de Notre Dame é uma construção imensa e magnifica, construída por vários pedreiros mestres abençoados por Deus e seu estilo gótico esconde armários e passagens secretas que poderiam guardar segredos e relíquias de maneira extremamente eficaz...” Por ordem do santo padre Felipe guardaria em sua catedral e com a própria vida se assim fosse preciso a relíquia a ele destinada... Uma chuva torrencial começara a cair na capital francesa e a noite que estava apenas com uma tímida lua crescente, tornou-se um breu absorto...

͏


Os passos do cavalo e as gotas da chuva nas folhas das árvores eram os únicos sons que chegavam a seu ouvido, a luz da lua não conseguia ultrapassar a barreira que as árvores formavam, a floresta estava escura e úmida, a única luz que o sacerdote podia ver era o reflexo de seu crucifixo de prata balançando conforme seu cavalo avançava na estrada que ligava Lion a Paris, estrada esta agora fora quase desfeita pela lama que descia o morro íngreme...
De acordo com seus cálculos deveria chegar à cidade a qualquer momento, a relíquia que levava na pequena bolsa de couro deveria ser entregue ao padre Felipe o mais rápido possível, no interior da igreja o livro de Toth estaria seguro, de todas as relíquias pagãs o livro do deus egípcio e suas informações não deveriam cair em mãos erradas, desde o final da civilização egípcia muitos homens morreram para que isso não ocorresse e ao que tudo indicava ainda estavam morrendo, de acordo com informações dos soldados templários, estava levando a única cópia que havia sobrado inteira.
Informações sobre doze pirâmides regendo a harmonia do planeta, encontros com seres mais evoluídos provenientes de outros planetas e um improvável futuro dirigido por um deus pagão eram informações que nunca deveriam se popularizar entre as pessoas, principalmente entre os cristãos.
Não sabia se estava com medo ou se as palavras do bispo sobre a carga que levava o impressionara muito, mas algumas vozes rodeavam seus ouvidos... Ou será que invadiram sua mente? Já não saberia definir... Vozes estas que tratavam-no por tolo... “Leia o livro” “Conheça o que foi escrito” Sua vontade era conhecer o conteúdo do livro, saber porque tantos morreram e mataram para obtê-lo, saber o motivo de tanta ansiedade do bispo em ver o livro fora de seu país...


͏


Batidas na porta da catedral tiraram a atenção do padre, sua oração pedindo perdão a Deus pelo que faria fora interrompida, levantou-se e abriu o templo para a visita encharcada que entrara na grande catedral em posse de uma pequena bolsa de couro...
“Padre Felipe, trouxe a encomenda para que fique sob sua posse ”
Os olhos do padre brilharam ao ver a bolsa ser estendida às suas mãos, um sorriso iluminou sua face... Levou as mãos até a bolsa e retirou-a das mãos do inglês imediatamente...
“Venha padre, vou levá-lo até os seus aposentos, sinta-se a vontade na catedral de Notre Dame, amanhã mostro-lhe toda a igreja...”
Subiram uma escada de pedra e chegaram em um pequeno aposento no andar superior, Felipe abrira a porta e esperou o hóspede entrar, fechou a porta ao som de um boa noite e apressou-se em chegar ao sótão da igreja, destrancou a grande porta de carvalho e entrara em uma sala iluminada por velas dispostas por quase toda a extensão do grande salão.
Retirara um pesado livro da bolsa, desenrolara o tecido que cobria a relíquia e examinara cautelosamente a capa, ao que parecia era feita de pele humana ressecada, tratada como couro animal, abrira as páginas e folheara desenfreadamente, queria ter certeza da autenticidade do livro, estudara os sinais egípcios por anos a fio, seus olhos não podiam acreditar no que viam... Era ele, o único livro remanescente da biblioteca de Alexandria, fechara novamente o livro e envolvera-o com o tecido... Abrira uma pequena valise de madeira e retirara os ossos de um santo local, colocara o livro no interior da pequena arca e trancara com uma chave... Já havia separado a chave que trancaria a porta quando ouvira um ruído pelas suas costas, virou-se rapidamente e ainda pode visualizar o pequeno machado abrir parte de seu tórax... Com sangue enchendo seus pulmões e sufocando-o viu o sorriso do padre inglês que empunhava a arma. Mais três machadadas foram dadas antes que a escuridão tomasse o jovem francês definitivamente e as chaves fossem retiradas de suas mãos...


AllisonRdS

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Blog Leitura Fácil

  Seis dias de amazon.com.br e o Haegessa: Entre a luz e as sombras já está sendo comentado e indicado como IMPERDÍVEL por blogs especializados em literatura como o Leitura Fácil e Árvore dos Contos... 
  Além do Brasil, alguns exemplares foram baixados nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Dinamarca, Itália, Canadá, Espanha, Malásia e Austrália... Estou muito feliz com a possibilidade de tantas pessoas lerem a história que escrevi... Espero que o próximo livro que está sendo escrito a todo vapor alcance bastante espaço, tanto quanto o Haegessa... =)).

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Promoção no site da Kindle.

De 03/10 à 07/10 baixem o HAEGESSA gratuitamente no site da Amazon...
Se você não possui um leitor digital, baixe o aplicativo do Kindle em seu pc, tablet ou celular e leia... Não importa onde, apenas leia...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Na Amazon.com.br com o melhor preço...


Agora o Haegessa: Entre a luz e as sombras está na Amazon.com.br por R$ 8,47... A maior livraria digital do mundo dá um pouco de frio na barriga... =)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Anunciação...

Anunciação


As nuvens encobriam a lua crescente de um céu sem estrelas, as velas eram a única iluminação perceptível aos olhos de todos. O circulo estava reunido mais uma vez e a oferta à grande deusa já estava pronta para o sacrifício. O homem fora banhado em água corrente de um córrego próximo, o haviam colocado sentado no interior do pentagrama incrustado na grama, estava vestindo sua túnica branca e com os olhos fechados meditava profundamente em posição de lótus.
A jovem bruxa permanecia em volta ao simbolo sagrado, sob as sombras das árvores aguardava os futuros passos do ritual. As outras bruxas começaram entoar um de seus cânticos sagrados, pedindo a proteção dos deuses e da natureza, a garota segui-as em sua melodia, era o seu primeiro Esbath, seguia os passos das outras mulheres, mas ainda precisava decorar todos os pequenos detalhes do ritual. Deram as mãos e a sacerdotisa tomou a palavra... “Grande deusa, aceite a oferta que suas humildes filhas lhe trazem, que toda a energia liberada agrade sua aura e que o cheiro agrade seu olfato”...
As cinco mulheres abriram suas túnicas negras e levantaram os capuzes que ainda cobriam seus cabelos, deixando com que o tecido deslizasse por seus braços e encontrasse a grama em que pisavam... Os corpos nus foram revelados ao mesmo tempo em que as nuvens abriram-se e a mata iluminara-se novamente.
O único homem que compunha o ritual levantara-se no interior do pentagrama, dirigiu-se até a ponta norte que representava o espirito e que continha além da vela um diminuto altar com os símbolos wiccanos, com a mão esquerda empunhou a adaga de cabo negro, fez um pequeno corte do dedo indicador da mão oposta e deixou com que duas gotas do seu sangue caíssem no cálice de prata. Levou o cálice aos lábios e bebeu um pouco do vinho misturado a seu sangue, pronunciou algumas palavras em uma língua ainda incompreensível à jovem garota...
Após pousar o cálice no pequeno altar, o homem dirigiu-se a cada uma das mulheres e deixou com que uma gota de seu sangue escorresse por entre seus seios, retirou a sua túnica branca e jogou-a para fora do pentagrama, deitou-se no centro do circulo com os olhos fechados e assim permanecera...
Uma a uma as mulheres entraram no símbolo e deitavam-se por sobre o homem até que seus sexos se encaixassem, seguindo em uma cópula intensa e barulhenta, mas não atingiam o clímax em momento algum... No momento precedente ao orgasmo levantavam-se e trocavam de garota, o bruxo permanecia rijo, agora com o olhar fixo na lua que reinava solitária no céu, após as quatro mulheres revezarem-se por algumas vezes, a mais velha delas levantou-se e pegou a iniciante pelas mãos. A jovem wiccana havia notado que o homem nitidamente em transe levantava a mão esquerda e com sua palma tocava as mulheres por entre os seios, aumentando a marca da pequena gora que havia deixado pingar em cada uma delas.
Julia olhara no próprio tórax e vira que a gota que houvera sido depositada há pouco minutos não deixara nenhuma marca. Foi posicionada por sobre o homem pelas outras mulheres e fora agachando lentamente, sentindo-se preenchida e sob o calor dos primitivos deuses da luxúria, o homem repetira com ela o gesto feito com todas e tocou-lhe por entre os seios, não sentindo a marca do próprio sangue, abaixou a mão e segurou-a pelo quadril... Julia sentira o sangue de sua virgindade sendo entregue como oferta aos deuses, a excitação que sentira aumentara de maneira inversamente proporcional à dor que diminuíra a cada movimento de seu quadril.
Sentindo que não conseguiria mais prorrogar o kundalini, teve a certeza de que seu papel na seita seria maior que um dia pudera imaginar, pousou as mãos sobre o tórax do homem que apertava cada vez mais o seu quadril e fechou os olhos, sentira um prazer tão intenso que seus sentidos foram apagando-se progressivamente...


Ao abrir os olhos novamente, Julia retornara à realidade, lembrou-se novamente de seu ritual de iniciação, suas pernas tremiam novamente como no dia em que participara daquele Esbath...
Levantou-se e olhou pela janela do apartamento, quase trinta anos se passaram, fora a única sobrevivente do coven... Bruxa, sacerdotisa... Se permanecesse entre os wiccanos talvez fosse Elder, mas acontecera tanta coisa... Uma trajetória que temia estar chegando ao fim... Vira o céu avermelhando-se, as lágrimas começaram a escorrer por seus olhos, fechou-os e pedira perdão mais uma vez aos deuses... Porque havia feito tudo o que fez? Não sabia explicar, sabia apenas que o tempo acabara...


AllisonRdS

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A porta de luz

A PORTA DE LUZ


       A lua cobria uma grande extensão do céu nesta noite, o outono havia derrubado as folhas das árvores há alguns dias, transformando-as praticamente em esqueletos de madeira. O contraste dos galhos negros com um céu azul repleto de estrelas tornava a noite um espetáculo lindo de ser visto e os olhos azuis de Sophie não conseguiam desviar-se do espetáculo proporcionado pela natureza. Um fino curso de lágrimas escorria pelo rosto... Sulcos de profundas rugas que uma vida repleta de dificuldades e não realizações transformara em cicatrizes... Algumas de dor, algumas de amor...
        Seu corpo permanecia sentado quase inerte, estava preso à prisão natural que as grades biológicas de seu corpo proporcionavam, mas não à sua alma... A sua alma voava pela paisagem embalada pela úmida brisa que ainda podia sentir em seu rosto...
Sophie podia ver o seu filho mais velho aproximando-se, há muito não o via, mas não lhe parecera estranho e isto acabara por revelar a sensação inquietante de véspera que lhe coroia o coração... Júlio sentou-se em um banco quase a seu lado e em silêncio permaneceram contemplando a paisagem do local que fora escolhido pela mãe há algum tempo, lembranças de uma vida que já fora melhor surgiram diante de seus olhos, uma película de risos, alegrias, decepções, dores e vazio e depois de algum tempo o esvoaçar de um jaleco pudera ser notado por sua visão periférica que ainda funcionava bem.
      A jovem enfermeira aproximara-se devagar, com um leve sorriso segurou as manoplas da cadeira de rodas... “Vamos entrar querida, já está tarde” Sophie olhara para o banco, o garoto a olhara com um sorriso nos lábios que fora retribuído na medida do possível, Júlio levantara-se e a acompanhara de longe para o interior da casa. A cadeira deixara seu rastro no belo pátio gramado que começara a receber algumas gotículas de uma chuva ocasional.
   Sophie fora colocada carinhosamente na cama pela garota, e devaneios do que viria pela frente subitamente tomaram seus pensamentos, olhara para o garoto novamente, que ainda permanecia sorrindo e olhando o quarto com uma certa curiosidade, fora nítido que permanecera ausente nos últimos trinta anos, mas mesmo assim transmitia uma paciência incomum às crianças.
       Olhara para o pequeno relógio e vira o ponteiro menor aproximando-se do que seria a vigésima segunda hora do dia, pressentira que hoje a sua alma se desprenderia e um leque infinito de possibilidades se abriria à sua frente. Para pessoas com um certo esclarecimento a morte não causava tanto medo, seria uma nova aventura ou apenas um novo retorno, mas não para Sophie que ainda brigava para deixar os olhos abertos. A luz fora apagada com um “Boa noite querida... Durma bem” e as pálpebras foram ficando mais pesadas, o garoto permanecia no quarto, sentado em uma poltrona ao lado da janela e olhando para as estrelas... Então, os olhos fecharam-se...

Φ

     Era como acordar depois de um sono rejuvenescedor, sentira os braços de Júlio em volta de sua cintura em um abraço adiado por trinta anos que enfim fora recebido em meio a lágrimas e sussurros de um amor sem muita explicação... E assim sem dizerem nenhuma palavra seguiram pela porta de luz que abrira-se no que fora antes a janela do quarto da clínica...



AllisonRdS

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Malditas vozes...

Malditas vozes...



Já chega...”
Vamos, acaba logo com isso...”
É essa a vida que você queria?...”
A banheira já estava cheia e a lâmina estava fora de sua embalagem, ela já não podia suportar a dor... e aquelas vozes... Malditas vozes que nunca se calavam... Sua cabeça estava explodindo com toda aquela confusão, as vozes pareciam-lhe ensurdecedoramente altas e caóticas... Muitas informações, muitas incitações...
Desde criança Lúcia sabia que não as suportaria por muito tempo, já se passaram trinta anos e elas ainda continuavam, já havia tentado de tudo... Religiões, meditação, tratamentos em grupo e medicamentosos, por fim o álcool, as drogas, o sexo incontrolável...
Vamos sua vadia, termine logo com isso”
A dor já vai passar”
Nada aquietava a sua mente, as cores eram apenas temporárias e as suas impressões do mundo ainda eram em preto e branco. Mas o que mais lhe causava dor, o mais insuportável era olhar em volta e ver que as pessoas viviam em um prisma de felicidade... Será que ela não era merecedora de um pouco de paz? Ou será que as pessoas viviam em um mundo de mentiras e divagações utópicas? Nunca conseguira achar a resposta certa, mas a cada sorriso, a cada festa, a cada momento feliz que era compartilhado e exposto por todos a incomodava muito... E isso causava-lhe medo do que as pessoas pensavam dela... Bom... Isso já fizera algum efeito, mas agora... Agora tanto faz...
Entrara na banheira com água quente, havia pesquisado sobre os possíveis efeitos, Lúcia não era uma garota burra muito pelo contrário, terminara sua primeira faculdade aos 25 anos, psicóloga... Hã... Grande merda... Tentara estudar a mente das pessoas e assim talvez resolver os problemas da sua própria mente... Nada feito!
Vamos garota...”
Ainda não acabou...”
Existem algumas teorias que dizem que as pessoas que cometem suicídio, ou o também intitulado auto extermínio, viveriam em um contínuo sofrimento em que repetem o momento de dor e o ato suicida pelo resto da eternidade, mas...
E se for verdade...
Não tinha certeza se seria algo tão ruim assim... Agora se sentia confortavelmente estável... Sentia-se bem, até conseguira ver alguma cor nos azulejos do banheiro...
O final da vida significava apenas o final da dor, o final da incompreensão e da impaciência dos que se diziam seus amigos... Nem ao menos estava chorando... Já havia gastado suas lágrimas há muito tempo...
Deitara-se e esperara o corpo se aquecer um pouco, sabia que a hipotermia que o sangramento causaria iria lhe trair, o frio provoca um fenômeno chamado “vasoconstricção” e por mais profundo que conseguisse fazer o corte a artéria era pouco calibrosa, uma hora esta pararia de sangrar e no momento que alguém a encontrasse provavelmente ainda estaria viva...
Olhara impaciente o relógio que colocara no banheiro... Dois minutos, quatro minutos... Cinco minutos... Chegara a hora...
Passou a lâmina do estilete de maneira firme e forte, sentira uma dor lacerante, o caminho dos ductos lacrimais foi redescoberto pelas lágrimas e Lúcia as sentiu escorrendo pelo rosto... A dor fez sua respiração doer em espasmos... O cheiro do seu sangue a impregnara... Mas...
Não podia parar agora, trocou rapidamente a lâmina de mão e cortou da mesma maneira o punho dominante... Estava feito, era só esperar... Colocou os braços do lado de dentro da banheira para mantê-los aquecidos e fechou os olhos...
Pequenos círculos de luz surgiam em meio à escuridão, as vozes ainda estavam lá... Bem mais baixas agora, mas ainda estavam lá... Foram se apagando, dissipando-se como o resquício do flash de uma câmera fotográfica...



AllisonRdS

quinta-feira, 31 de julho de 2014

  Com um pouco mais de sessenta dias publicado o Haegessa: Entre a lua e as sombras tem me levado a resultados interessantes: muitos elogios, algumas críticas, vendas não muito boas, rsrsrs... Mas uma experiência incrível em ter escrito um livro considerado por todos que o leram como "muito bom", "surpreendente", "intenso"...
  Com um novo livro em produção e estudando cada vez mais sobre o mágico mundo da literatura, foi publicado apenas como livro digital... O ebook é uma opção extremamente interessante, primeiramente pelo conceito de tirar o foco de "objeto" e passar o foco para o "conteúdo" do livro, acho que é uma alternativa que ainda limita um pouco o acesso, afinal quem não gosta do cheiro de um livro novo? Ou de passear entre as prateleiras de uma livraria?
  Mas novos tempos estão chegando e quem sabe novos conceitos serão trazidos com eles, não é?    
  O Haegessa continua na Saraiva entre os livros de literatura nacional, algumas vezes entre os trinta mais populares, outras vezes entre os cinquenta e  outras entre os duzentos... rsrsrs... O link segue abaixo, se puderem curti-lo no link abaixo, agradeço bastante...
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/7552733. 
Um grande abraço a todos. 
AllisonRdS...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Volvere...

Volvere



- Heitor... Heitor...
Ø


A cela ainda estava escura e gelada, as grades no turbilhão inconstante da agitação de seus pensamentos transformavam-se em desenhos abstratos, seus olhos já o enganavam, ludibriavam os traços da realidade... Não havia conseguido dormir esta noite, sua última noite...
Tivera bastante tempo para pensar em tudo o que havia feito às pessoas... Ossos do ofício? Talvez... Não se arrependia de nada! A sua arte/oficio o levara a lugares diferentes, exóticos, inimagináveis... Atravessara oceanos, montanhas e floretas, cavalgara os melhores cavalos, bebera os melhores vinhos, conhecera príncipes, condessas, bispos, bruxos... Tivera uma grande vida! Maior do que a grande maioria das vidas que conhecera... E também das que ajudara a antecipar o final...
Seis horas da manhã... Podia ouvir o badalar do sino o avisando que a hora estava chegando, seus olhos estavam úmidos, mas não sentia-se no direito de derramar suas lágrimas, imaginou quantas já fez as pessoas derramarem... Quanta dor havia causado?
Estava no direito de sentir a sua dor? Quem lhe deu este direito? Achava que ninguém... Procurava a resposta...
As horas haviam passado depressa, em pouco tempo o guarda trouxera-lhe a famosa última refeição, a escolhera na noite anterior... O arroz, as batatas e o filé de peixe ensopado lhe pareceram uma boa opção... Mas agora, o cheiro da comida embrulhava-lhe o estômago...
Flashes passavam sob seus olhos o tempo inteiro... Ainda podera ouvir os gritos horrorizados que causava em suas vitimas e sentira novamente o prazer habitual em ouvi-los... Mesmo que fossem só em seus pensamentos...
E assim permaneceu por quase todo o dia, sentado no chão e com os olhos fechados, até um padre aproximara-se de sua cela, as grades foram abertas e o sacerdote entrara com um Bíblia em mãos...
“Filho... ajoelhe-se e peça perdão por seus pecados, redima-se perante Deus”... “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”
Assim sincronicamente repetira as palavras do padre e aguardara o momento derradeiro... Uma, duas, três... O sino anunciava a hora a que tanto aguardara e que tanto temia. Levantou-se, as grades foram abertas novamente, saiu até o corredor principal acompanhado do padre, os braços para trás foram algemados...
“Força” “Vá com Deus” Ouviu alguns dos outros presos enquanto caminhavam até o pátio... As portas se abriram.
O pátio vazio, molhado pela chuva que havia encharcado a todos os presentes... Três guardas, o padre e um carrasco... Sentiu uma certa decepção... Achara que sua fama atrairia algumas pessoas, atravessou o pátio, estava com medo e já não controlava mais as lágrimas que insistiam em soltar-se dos olhos e lançarem-se ao chão... Não se importava mais...
Subiu os degraus cuidadosamente, seria a última escada que subiria e gostaria de poder aproveitar um pouco mais a sensação que as gotas da chuva lhe causavam...
Foi posicionado sobre a pequena escotilha comandada pela alavanca que ficava à esquerda, a corda foi passada por seu pescoço e o nó foi ajustado pelo homem vestido com a capa negra... Um dos oficiais do exército imperial se aproximou, visivelmente incomodado pela chuva e pelo dever que o tirara do conforto...
“ …O senhor é acusado de vários homicídios, ocultação de cadáveres, motim contra o império, pirataria e bruxaria... Algo a dizer em sua defesa?”
Sob a negativa do acusado, o oficial fez um pequeno gesto e a alavanca fora puxada...
O destino estava de mau humor aquela tarde, pois suas vertebras não quebraram com o impacto... A corda apertando-lhe o pescoço, empurrava sua língua para cima e para fora, os pulmões gritavam por mais um pouco de ar e seu corpo com as mãos algemadas para trás debatia-se descontroladamente...
O que deveriam ser poucos segundos transformavam-se em momentos intermináveis de angústia e dor, seus gritos presos não conseguiram ser emitidos... Mantinha os olhos abertos enquanto tentava inutilmente controlar a dor lacerante que queimava-lhe o peito e a garganta como fogo... Após sentir suas pálpebras fechando ainda conseguiu ouvir o distante badalar do sino... E a escuridão o tomou por completo...

Ø

- Heitor, tudo bem? Consegue entender o que eu digo? Pisque os olhos ou aperte a minha mão se conseguir... - O homem com a roupa verde e máscara cirúrgica batia em seu ombro e o olhava enquanto falava... - Você está bem agora, quase morreu... Mas agora você está bem...
- Enfermeira vou diminuir os parâmetros do ventilador, o glasgow do paciente está em 11T e vamos extubá-lo daqui a pouco...
Heitor não fazia ideia do que ocorrera com ele, ouvia o som dos monitores e sentia o manguito aferindo sua pressão... Procurava uma resposta... Mais uma vez o estranho sonho se repetira... E maldita dor no pescoço ainda continuava...


AllisonRdS

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O sétimo coven.

O sétimo coven

A chuva caia torrencial, os olhos de Helena não conseguiam enxergar muito além do círculo... As outras quatro permaneciam em suas posições mantendo elevado o nível de energia do coven... Logo começaria a batalha e toda a força do grupo seria colocada a prova...
Podiam ouvir as tropas se aproximando, Helena olhara a jovem Lourdes na outra extremidade do circulo, estava chorando, mas mantendo-se firme apesar do frio e do medo... Joana estava com os olhos fechados, concentrando suas forças em seu chacra coronal... As outras duas garotas mais experientes trabalhavam juntas, Helena via suas auras azuis tornando-se apenas uma por alguns instantes, a sacerdotisa levantou os braços clamando à grande deusa força para conseguir salvar a cidade...
Os barulho dos cascos dos cavalos aumentavam e o som das armaduras também tornara-se mais intenso, Helena suava frio e sentira o calor inconfundível apesar do vento gelado que viera acompanhando a chuva...
Estava com medo, com muito medo... Se fossem pegas certamente seriam presas, torturadas e queimadas, malditos cruzados e a sua percepção equivocada sobre religiosidade... Um porta bandeira pode ser avistado por Helena, o cavaleiro estava encharcado, o estandarte pingava a água da chuva e o uniforme estava sujo com sangue...
Ao ver o circulo sagrado o homem parou seu cavalo que quase o derrubou quando ergueu-se sobre as pernas traseiras... Com seus grande olhos azuis encarava as cinco mulheres enquanto balançava a bandeira... Os homens chegaram e os arqueiros com o uniforme branco ostentando uma grande cruz vermelha já colocaram as flechas em seus arcos e aguardavam a ordem de seu comandante... Será que ainda não haviam percebido que seria ineficaz? Não haviam notado que as mulheres estavam secas no interior do circulo?
Uma nuvem de flechas tombara na invisível proteção que guardava o coven de Helena, as bruxas voltaram-se de frente uma para as outras e deram as mãos... Sob uma ordem incompreensivel aos ouvidos de Helena a cavalaria templária avançou com toda a força...
Lanças de batalha apontadas para as mulheres protegidas pelo circulo mágico, que já apresentava-se como uma cúpula aos olhos dos homens, mas será que manteriam-se intactas sob o aço cristão? O cavaleiro da ponta passou direto pela cúpula, seguido pelos outros homens, a infantaria templária também passara, entraram na cidade... Vazia, gelada e abandonada, seguiram em formação até o interior da cidade...
Tudo estava queimado, corpos estendidos pelas ruas e sangue escorrendo pelas ruas... No centro da pequena cidade de pedra havia uma grande cruz de madeira, invertida em meio a sete cabeças recém cortadas ainda usando seus crucifixos de prata...
As tropas ocuparam a cidade inteira, talvez ficassem por alguns dias, devem ter tido uma alucinação coletiva...


As mulheres abriram os olhos, permaneciam entre o grande circulo de pedras... Intactas...
Fizeram sua viagem com sucesso, Lourdes permanecera em silêncio durante todo o caminho de volta, era apenas uma garota e esta fora a primeira viagem ao mundo etéreo que fizera em seu novo coven, descera do carro e entrara em casa, sua mãe ainda estava no sofá, provavelmente esperando-a até que pegou no sono...
Lourdes entrou em seu quarto e tirou as roupas, deitou-se e fechou os olhos, ainda conseguia ver os olhos do homem que carregava a bandeira...


AllisonRdS

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Aquárius...

AQUARIUS...



As bolhas subiam na água já verde, pelo visto todos os peixes haviam morrido há algum tempo, fungos estavam comendo seus pequenos cadáveres, dava pra ver as marcas de longe e o cheiro de peixe morto empestiava o ambiente... Descendo um pouco mais a lâmpada de luz negra, pequenas gotículas de sangue puderam ser identificadas, estavam nas duas pilastras que sustentavam o aquário, atrás delas estava uma pequena bolsinha... Abrira-a... Uma adaga, duas velas negras e algumas pedras de cristal com runas encrustadas... Será que a motivação do crime fora para algum tipo de ritual?
Era estranho pensar nisso agora, com o caso praticamente encerrado... Rituais de sacrificio em um apartamento daquele padrão... Naquele lugar? Era algo no mínimo incomum... Sacrificios normalmente acontecem em lugares considerados sagrados, mas sacrificar pessoas? Alguém pode ter esquecido a bolsa aqui, a escondido depois? Talvez fosse do professor, mas ninguém da policia a vira antes? Como?
O piso de madeira estava todo marcado, o rastro de sangue produzido ao arrastar o corpo até a banheira da suíte fora lavado, mas a luz negra revelara tudo... As lâmpadas do luxuoso banheiro foram apagadas e a lanterna especial revelara toda a carnificina que estes azulejos assistiram há alguns dias...
As peças do quebra cabeças se encaixavam perfeitamente... O acusado trouxera a vítima ao apartamento, a executara na sala e arrastara o corpo para o banheiro, esquartejara a garota com as lâminas de bisturí roubadas do laboratório da universidade, colocara os pequenos pedaços cirurgicamente removidos em sacos de lixo e então acomodara-os em três grandes malas de couro...
Descera pelo elevador principal, colocara as malas na Freemont, dirigira até a mata de Santa Tereza, esvaziara as malas, colocara-as novamente na Freemont e fora para a universidade, trabalhara durante todo o dia e voltara ao apartamento, limpou tudo e continuara a vida como se nada tivesse acontecido...
Mais um crime incomum nas grande cidades brasileiras, quantos casos vamos nos jornais das 21h toda semana? Mas... Haviam duas diferenças para os demais... Esta era a quinta garota de programa assassinada pelo professor... E ele havia enlouquecido e se enforcado no CDP de Ribeirão Preto, três dias depois de sua prisão preventiva ser cumprida...
Vicente voltara até a sala de jantar, guardara a lanterna, o gravador e o caderno de anotações na mochila, colocou a pequena bolsa em uma sacola plástica e a lacrara, escreveu EVIDÊNCIA no plástico, colocou na mochila, apanhou a máquina fotográfica e voltou à sala de estar, precisava tirar as fotos, anexar ao arquivo, fazer o relatório da perícia e pronto. Estaria encerrado... O problema passaria a ser do novo investigador...
O cheiro de peixe morto o estava incomodando muito, mas, o que é isso?...
Agora as luzes do aquário estavam acessas, a água verde e cheia de lodo iluminada revelara algo... Chegando mais perto pode ver que entre as pedras verdes e brancas um pentagrama de pedras azuis dava um tom macabro ao aquário, as luzes que há pouco estavam apagadas, agora destacavam o simbolo, sentira os pelos de seus braços eriçando-se... Virou-se imediatamente... Estava sozinho no apartamento, é claro que estava... Depois de quinze anos na polícia, e por tudo o que passara: trocara tiros com bandidos, fora baleado algumas vezes e ameaçado milhares de vezes, ficar com medo em um apartamente vazio? Claro que não...
Fotografou o aquário, as pilastras, o piso, o banheiro... Apertou a tela touch screen e começara a olhar as fotos... Algo o chamara a atenção em uma das fotografias... Um vulto próximo à janela da sala, bem atrás dele... Virou-se de costas imediatamente, nada... Olhara fixamente o espelho e aguardara alguns segundos... Estava com medo... Sentira sua frequência cardíaca aumentada... Não acreditava em assombrações...
Levantara a câmera... Apertara o botão duas vezes... Abaixou a cabeça novamente e olhara as fotos que acabara de tirar... A parede de azulejos, ele, o flash... Um homem com uma capa negra a seu lado direito... Desligou a câmera já com as mãos trêmulas e suadas... Voltou atá a sala de estar e sua mochila agora estava no chão, no meio da sala, de frente para o aquário... Olhou em volta, caminhou até a mochila já fazendo mentalmente uma oração, pedindo proteção... Abaixou-se e segurou a alça da mochila... Levantou a cabeça devagar e olhara o aquário fétido e esverdeado... O vulto aparecera no reflexo do vidro já levantando uma adaga...
… Vicente pode sentir sua camisa pegajosa com o sangue que agora escorria por seu dorso e pingava no chão, perdera o ponto de equilibrio e desabara em direção ao piso de madeira... Não havia mais forças para se levantar... Pegara sua arma no coldre... Mas atiraria em quem? O ar faltava e a pequena quantidade que conseguia respirar queimava-lhe o peito, então deitou no chão, estava longe da mochila e mesmo que conseguisse alcançar o celular... Sentiu então uma mão segurar o seu tornozelo e levantar a sua perna... O ar faltava... Começou a ser arrastado em direção ao banheiro, deixou sua cabeça tombar levemente para trás... Abriu os aolho que já insistiam em permanecer fechados... As bolhas do aquário... Bolhas... Bolhas...

AllisonRdS

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Allegro, mas nem tanto...

 Allegro, mas nem tanto...


Em silêncio a porta fechara-se...

Lá... Mi... Fá... Colcheias e semi colcheias indicavam qual seria a próxima nota a ser tocada... Seu coração estava apertado esta noite, não sabia o motivo... O arco passeava pelas cordas do cello mais uma vez... Sonata para violoncelo nº3, opus 69, Beethoven, L.Van... Uma das partituras que mais lhe agradava, seria a solista desta noite e estava praticando há um bom tempo, lembrara de escrever seu nome em um dos cantos da folha, sempre perdia suas partituras não identificadas...
A música... Era perfeita e ela não poderia açoitar os ouvidos do público esta noite com notas desafinadas ou dissonâncias oportunistas, muito menos os ouvidos de Anthony...
- Perfeição é o mínimo exigido aqui... - Ainda podia ouvir as palavras carregadas de fúria e gotículas de saliva do maestro Anthony caindo sobre sua estante... “Perfeição...” “Perfeição é o mínimo exigido” - As palavras não saíam de sua cabeça nem por um momento...
O sótão estava gelado aquela tarde, a bela violoncelista sentira os dedos e os olhos queimando, encostara o arco em um banquinho próximo à estante de madeira, posicionara o instrumento de ensaio de uma maneira adequada e enfim, após quase duas horas levantara-se da cadeira propositalmente desconfortável e de frente para a parede marrom, janelas ou estofados na cadeira poderiam distraí-la... Olhara as folhas das árvores pela janela, dançavam sob a força do gélido vento daquela tarde de outono... Já estava na hora, o teatro estaria lotado? Maquiou-se e passara seu perfume favorito...
Descera até o salão principal, já conseguira ouvir os músicos da orquestra subindo no palco... Aplausos... Sim, o teatro estava lotado mais uma vez... A cauda de seu longo vestido arrastara-se pelos degraus da luxuosa escada do Pedro II, passara pelas portas e vira o seu reflexo nas vidraças, achou-se bonita, seu longo cabelo negro estava impecavelmente penteado e o longo vestido vermelho combinava com a maquiagem e os sapatos tão cuidadosamente escolhidos por sua mãe... “Perfeição é o mínimo exigido”...
O caminho solitário que Isabelle percorrera entre o sótão e o palco parecia não terminar, estava nervosa, como sempre ficava antes de cada concerto... A pequena mesa estava no lugar de sempre, Isabelle apanhara a jarra de cristal e colocara um pouco de água na taça... Sua boca estava seca e apesar do tempo gelado a seu redor, sentia muito calor, talvez um calor movido pela ansiedade. Esperou alguns instantes atrás das grandes cortinas vermelhas, observara os outros membros da orquestra sentados e entrara no palco... Aplausos... Agradecera a plateia, os balcões e camarotes... Sentou-se em sua cadeira e posicionou seu cello francês entre os joelhos, aguardou o spalla entrar no palco e sentar-se à esquerda do maestro... O estridente lá saíra do Stradivarius do spalla... Acertara a afinação, observara Anthony entrar no palco... Mais aplausos...
O maestro tocou três vezes em sua estante com a batuta... Os olhos de Isabelle voltaram-se à partitura... Sonata nº 03, Opus 69... Allegro, mas nem tanto... As mãos do maestro italiano ergueram-se... Abaixaram-se e o arco de Isabelle finalmente acariciara as cordas de seu cello...


- Tá ouvindo Cláudio?
- Não estou ouvindo nada cara, sobe a tinta...
- A música...
- Liga o rádio que você desencana, não tem música nenhuma, agora sobe a tinta...
André subira novamente as escadas do andaime com a lata de tinta nas mãos... Era recém-contratado da empresa de engenharia responsável pela restauração do teatro que fora consumido por um incêndio há muitos anos, sempre ouvira a mesma música no final da tarde, depois das 17h via algo estranho no palco, ouvia o som e sentia o perfume...
Estranho, pois mais ninguém via, ouvia ou sentia o perfume...Deixou a tinta aos pés do restaurador e fora até o palco, levara a lanterna e seguira iluminando os escombros, queria olhar mais de perto... Subira uma escada e encontrara uma porta praticamente intacta... O perfume doce, o aroma que o fascinara estava aqui... Seu coração se apertara... Abrira a porta em um único empurrão...
Nada... Apenas escombros a céu aberto, o que um dia fora o sótão de um dos teatros mais luxuosos do país hoje não passava de um amontoado de madeira queimada, o sol já deitava atrás dos prédios do centro da cidade e o tom amarelo revelara algo à luz do crepúsculo... Abaixara-se e pegara entre os pedaços de madeira queimada um pequeno pedaço de papel... “Sonata para violoncelo nº3, Opus 69. Beethoven, L. Van” - Isabelle Dias...


Isabelle ensaiava novamente quando sua porta fora aberta e seu coração quase saíra pela boca...


AllisonRdS

terça-feira, 17 de junho de 2014

Conto 1 - Continnum...

Conto 1- Continnum...


  O homem olhava o contraste em que a cidade se apresentava aquela noite, nada de diferente do que quase sempre acontece... Seus olhos já cansados ardiam e sua visão já embaralhava-se, contemplava ao mesmo tempo a tranquilidade que a luz da lua proporcionava e a caótica disputa por espaço e atenção em que outdoors, lâmpadas de neon e faróis de carros e motocicletas se engrenavam... Estava em pé sobre a mureta que um dia havia sido projetada e construída para proteger alguém de uma queda eventual, mas pelo visto isso já fora há muito tempo...
   Haviam apenas duas opções à sua disposição, talvez houvessem mais, mas não conseguia vê-las... Voltar para dentro e terminar o que havia começado ou simplesmente dar um passo adiante, despencar em uma queda livre do vigésimo andar e encontrar o asfalto esburacado... Qual seria a melhor delas? Há uns vinte minutos media os prós e os contras de cada uma...
 Se voltasse teria que encarar aqueles olhos inquisidores novamente, embrulhá-la, descer as escadas do prédio a levando sobre os ombros e correr o risco de ser apanhado antes mesmo de definir os próximos passos. Já se pulasse tudo terminaria bem... Ou descobriria que a teoria de que os suicidas repetem continuamente seus últimos momentos é verdadeira...
 “Se eu fosse embora agora, será que você entenderia? O silêncio lhe dizendo que a culpa não foi sua... É que eu nasci com o pé na estrada e com a cabeça lá na lua...” As frases da música que ouvira há pouco não saiam de sua cabeça, havia ligado o i-pod para abafar alguns possíveis sons que o entregariam... Havia planejado tudo, seria perfeito... Mas... Parece que ouvira algo... Uma gélida brisa tocara seu corpo, cruzou os braços em torno do tórax nu na inútil tentativa de se proteger de algo, talvez do frio... 
  Enfim tomara sua decisão...
 Deu um passo atrás... Desceu e entrou novamente pela porta de vidro ainda aberta, passou pela cortina e viu que ela ainda estava lá, inerte... A camisa ainda cobria seu rosto, não conseguira encará-la...“ O que eu fiz?”... Respingos de sangue davam uma nova decoração à luxuosa sala de estar do apartamento de cobertura, tanto tempo depois... “Que merda eu fiz???”... A estátua africana com suas impressões digitais permanecia perto dela, morta... As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto novamente... Seus pés descalços tiveram a incômoda sensação de pisar em uma placa de sangue coagulado...
  Novamente a brisa gelada... Sua respiração começara a acelerar, a sala inteira estava gelada agora... Saia fumaça quando expirava... Abaixou-se e puxou a camisa... Os olhos estavam abertos, ela o estava encarando novamente... A têmpora aberta e o tapete que um dia fora branco mudara com a cor de seu sangue... Sentia medo agora, muito medo, estava perdido...
  - Abra a porta! - A voz firme de um homem pudera ser ouvida acima da música, acompanhada de diversas batidas na porta... - Abre a porra da porta, senão vou arrombar...
  Tomas não tivera mais dúvidas, jogou a camisa novamente sobre o rosto da esposa inerte, virou-se de frente para a porta de vidro e correu... Liberdade... Fora sua única sensação ao visualizar o asfalto da avenida mais cara de Ribeirão aproximando-se de seu rosto... Ouvia o vento inerte respondendo à velocidade com que seu corpo despencava... As grades do prédio... o gramado... o som do vento... frio... escuridão... escuridão... escuridão... silêncio...
   …
  Olhava novamente o contraste em que a cidade se apresentava aquela noite, nada diferente do que quase sempre acontece... Seus olhos já cansados ardiam e sua visão já embaralhava-se...
AllisonRdS

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Minha primeira conversa...

  

Sempre coloco fragmentos do meu primeiro livro no blog, mas nunca me apresentei para as pessoas que estão visualizando a página...


Bom, o meu nome é Allison, tenho trinta e poucos anos, sou enfermeiro, trabalho em um grande hospital escola do interior de São Paulo, me orgulho em ter escolhido esta profissão, adoro o que faço, cuidar das pessoas doentes é revisitar os nossos momentos de angustia e medo, de esperança e alegria, aprendo muito todos os dias... Já fui musico profissionalmente, toquei contrabaixo em algumas bandas e me diverti muito com isso... 
    Escrever começou como um hobby, sabe quando ler uma história já não é o bastante? Foi assim que comecei... Sempre fui um leitor compulsivo, Ken Follet, Tolkien, André Vianco, George RR Martin, Paulo Coelho, Eduardo Spohr, Augusto Cury e tantos outros, fizeram-me enxergar um novo mundo e ter a necessidade de colocar minha mente para trabalhar em outras coisas, coisas novas... 
    HAEGESSA: Entre a luz e as sombras nasceu pra ser um livro policial, baseado em filmes, livros e games que vivenciei de alguma forma, seja lendo, assistindo ou apertando botões de algum controle... mas tornou-se muito maior, em certo momento misturou-se com fantasia, com bruxaria e com tantas outras coisas que nem ao menos sabia que estavam na minha cabeça, essas coisas apenas apareceram e tomaram conta da história, a história ganhou vida própria.
    Mandei o livro pra várias editoras, não obtive respostas... Então vi a possibilidade da auto publicação e pensei... Porque não? Fiz o cadastro na Saraiva e disponibilizei o livro em formato digital... Hoje ele está como o 46º em popularidade, num total de 4.158 livros digitais, isso me faz muito feliz! Agradeço a quem o olhou na página, o classificou ou mesmo se interessou por ele... O prólogo está disponível aqui no blog e o link dele é esse: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/7552733
    Vou ficando por aqui, passo e deixo novas notícias, se quiserem deixar comentários fiquem a vontade. Abraço a todos...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Orgulho!!!

Hoje tive a felicidade de abrir a página da Saraiva e ver o meu livro, lançado a uma semana e pouquinho estar entre Augusto Cury, Eduardo Spohr e Marta Medeiros... Estou muito feliz!