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sábado, 4 de julho de 2015

Collectis

Collectis

As coisas não iam muito bem nesta noite, a mulher olhava ininterruptamente pelo pequeno vitral do templo, a luz da lua continuava iluminando o pátio parcialmente escuro da pequena igreja e ela podia ver toda a movimentação do lado de fora através dos vidros coloridos, asas negras batendo, o brilho das lâminas que reluziam à luz do luar, gritos de dor e de ódio misturando-se o tempo todo ao som do atrito das espadas...
Colocara as mãos sobre os ouvidos para tentar amenizar um pouco do barulho que a estava enlouquecendo e movimentara a cabeça para a direita e para a esquerda em movimentos contínuos, mas... Era inútil... O barulho continuara a atormentando e cada vez mais alto...
Começara a notar que uma das paredes começara a trincar lentamente, acompanhada de um barulho quase ensurdecedor, era como se uma grande bola de demolição colidisse com a parede com uma força absurda, assustada sentara-se na outra extremidade da pequena igreja. Após alguns instantes notara que a parede apresentava uma grande rachadura, uma enorme mão atravessara a parede e começara a forçar a pequena abertura... Os tijolos que formavam a cúpula da igreja começaram a ceder gradualmente e o que era apenas um trincado começara a ganhar proporções de um enorme buraco na parede, as pinturas sacras começaram a ganhar vida e a movimentar-se nos grandes afrescos da cúpula, um forte cheiro de queimado começara a inebriar que sentia seu estômago revirando-se e a bile chegando à sua boca.
Abaixou a sua cabeça e deixou com que o vômito eclodisse, levantara a cabeça novamente e vira um demônio gigantesco entrando pela cúpula da igreja, suas enormes asas negras ainda desprendiam-se da abertura feita na parede. Olhou em volta e notara que os desenhos haviam se transformado em homens magros e sujos, formando um enorme cone parecido com a ilustração que Dante fizera dos sete infernos em sua maior obra, porém o demônio que ficara no sétimo havia destruído a parede e agora caminhava em sua direção...
“Senhor do céu, me proteja... Ave Maria, cheia de graça...” Uma oração começara a sair aos prantos, mas o demônio de pele queimada e asas parecidas com as asas de um morcego ainda caminhava em sua direção, a espada dourada e suja de sangue ainda fresco em riste... A oração fora substituída por gritos de horror...

Ψ

A enfermeira entrou no quarto e ficara ligeiramente irritada, como a paciente havia se soltado novamente das contenções? Colocou a bandeja com as medicações de horário na mesa de cabeceira e tocara a campainha para pedir ajuda, a mulher de meia idade estava sentada em um dos cantos do quarto sob uma enorme poça de vômito, suas mãos estavam espalhadas sobre os ouvidos e ela gritava alucinadamente...
Colocaram-na na cama e a contiveram novamente, a enfermeira administrara a medicação endovenosa e esperara com que uma sedação leve fizesse efeito, saíra do quarto novamente e após três horas retornara ao quarto para ver o estado da paciente que permanecia em silêncio, a cena que encontrara fora impressionante...
O cadáver permanecia contido no leito, as marcas de queimado envolviam seu pescoço, como se houvesse sido enforcada por uma corda em chamas, por suas vias aéreas vazava um líquido viscoso e a rigidez cadavérica não deixara com que seus braços se movessem, era como se estivesse morta há muito tempo...


AllisonRdS